Desenvolvido pelo Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), em parceria com o Museu Sankofa Memória e História da Rocinha, o Vozes da Cozinha é um projeto de escuta que utiliza o recurso audiovisual para mediar o registro das memórias atravessadas pelos afetos, saberes e sabores de pessoas que alimentam suas famílias e a cidade. Com a proposta de documentar e criar um acervo a partir dos relatos de cozinheiros(as) profissionais ou não, esse projeto valoriza o conhecimento partilhado por meio da comida - enquanto ciência e tecnologia popular -, considerando suas possibilidades de geração de renda e identificando iniciativas que contemplem o respeito ao ambiente e a segurança alimentar, em uma perspectiva de um ecossistema de inovação sustentável.
Ao escutar histórias em torno da comida e registrá-las dando a elas status científico, pretende-se estabelecer uma legitimidade dos saberes e das práticas populares, criando um grau de valorização e pertencimento a uma sociedade de produção de conhecimentos e significações. Investigar o circuito da alimentação pode favorecer a reflexão sobre segurança alimentar, tanto no que se refere à manutenção da vida, quanto na compreensão dos fluxos e refluxos que um sistema desigual produz. Este é um movimento fundamental para projetarmos cidades e sociedades ditas inteligentes. E, como possíveis articulações com o ecossistema de inovação social sustentável do Rio de Janeiro e com a proposta de criação de um Parque de Inovação Social eSustentável na Rocinha, fica proposto conexões com o mapeamento das cozinhas e pontos de coleta de resíduos, visibilizando os fluxos e refluxos do circuito que envolve a alimentação; além de conexão direta com o Laboratório de Mídias Digitais de produção audiovisual que ficará na comunidade.
A metodologia desse projeto está sintetizada na sabedoria de uma das cozinheiras entrevistadas, Marly Ferreira, que disse, já na primeira conversa do diagnóstico, que “não tem medida, é tudo no olho”. Fazer uma comida boa sem medidas pré-determinadas requer experiência e intimidade com sabores e saberes: ingredientes, técnicas, meios e procedimentos, que se recriam constantemente a partir de uma percepção maior do que se pode adaptar para os possíveis resultados. Essa prática revela um método similar a prática de pesquisa do Cecip, que entende o audiovisual não só como meio de emancipação e possibilidade de aproximação com leituras críticas das realidades, mas também como mediador de conversas e aproximações que se dão em meio às combinações do fazer. Portanto, o próprio modo dialógico e participativo exercitado no processo criativo do audiovisual é didático e contribui para que todos entrem em movimento de escutação e trocas, onde todos ensinam e aprendem.
Vozes da Cozinha está dividido em 3 etapas: (1) Diagnóstico, para mapeamento de iniciativas inovadoras existentes na Rocinha que abordam questões como segurança alimentar, gestão de resíduos, agricultura comunitária, diversidades culturais e economia solidária; (2) Oficinas de audiovisual voltadas para a produção de minidocs com personagens que contam suas histórias atravessadas pela comida e pela cozinha; e (3) Registro, sistematização e divulgação dos resultados, para dar visibilidade à metodologia.
Objetivo geral:
Contribuir para o ecossistema de inovação social sustentável do Rio de Janeiro, mediante o registro audiovisual, a promoção de redes e a criação de acervo de sabores e afetos de pessoas que alimentam suas famílias e a cidade, e que contam suas histórias e memórias por meio da comida, dando visibilidade a estas experiências, considerando suas possibilidades de inovação e de geração de renda, identificando iniciativas que contemplem o respeito ao ambiente e a segurança alimentar.
Objetivos específicos:
Realizar diagnóstico incluindo o mapeamento de iniciativas inovadoras existentes no território da Rocinha que abordem questões sobre segurança alimentar, fluxos de resíduos, agricultura comunitária, diversidades culturais e economia solidária, dentre outros temas;
Oferecer meios e infraestrutura em tecnologias digitais através da formação de dois grupos de produção audiovisual que terão acesso a computadores, celulares, unidade de gravação com câmeras e acessórios; e acesso a pacotes de Internet. Ao término do projeto os equipamentos serão doados para instituições da Rocinha;
Promover formação em arte e tecnologia, para um grupo de moradores da Rocinha, voltadas para a produção de minidocs;
Identificar e selecionar personagens que queiram contar suas memórias ligadas aos sabores afetivos por meio de culinárias diversas, ampliando as possibilidades de geração de renda e inserção na economia criativa;
Compor um acervo de memórias que fará parte do Museu Sankofa Memória e História da Rocinha e de ambientes virtuais, visando dar visibilidade às histórias e preservar a memória;
Fortalecer redes entre atores e iniciativas do território da Rocinha;
Sistematizar a metodologia desenvolvida no projeto, divulgando os resultados, para dar visibilidade a essa metodologia de inovação.
O CECIP já vem se articulando, desde 2012, com instituições do território da Rocinha e diferentes atores -educadores, jovens artistas, agentes culturais, lideranças comunitárias - realizando ações de fortalecimentos de parcerias, bem como com outros territórios e instituições públicas e privadas do Rio de Janeiro, o que abre
possibilidades de articulação entre iniciativas similares e afins que acontecem na cidade. Além disso, trabalha com projetos em outros territórios do Rio de Janeiro, possibilitando trocas e conexões tanto entre a Rocinha e outras comunidades, quanto entre a Rocinha e instituições que fazem parte do ecossistema de inovação da cidade.